terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mariquices

Eu amo o Pedro.
O Pedro ama-me a mim mas também ama o Miguel.
O Miguel deve agradecer a Deus por ser homem, pois se fosse mulher eu estaria neste momento a caminho de Sintra, para lhe enfiar umas valentes cabeçadas, não sem antes porém, enfiar umas valentes cabeçadas no Pedro.
Esta coisa das cabeçadas intriga-me. Dar uma cabeçada significa receber uma cabeçada, ainda que de forma involuntária. Dói aos dois. No calor do momento poderá doer um bocadinho menos ao indivíduo enraivecido (eu) mas na lavagem dos cestos, o galo é igual. Não seria mais eficiente uma paulada? Resumindo: graças a Deus para todos (para mim também, de acordo com a teoria das cabeçadas) que o Miguel é homem.
No fundo, fico grata por ter quem faça o Pedro feliz quando não estou cá. Especialmente se essa pessoa for um homem. Fico feliz por haver quem o faça rir e quem o deixe como eu o vi no outro dia, acabado de regressar de Sintra, qual miúdo de seis anos com uma fisga nova. A atropelar as palavras, cheio de coisas para contar e cheio de frases começadas  por "O Miguel..."
O Miguel fez...
O Miguel diz...
O Miguel disse...
ou
Mas o Miguel...
Confesso que a parte de "mas o Miguel..." me enerva um bocadinho. O "mas" pressupõem que o que eu digo, não está tão certo quanto o que o Miguel disse um dia. Independentemente de quem está objectivamente mais certo, eu gostava de acreditar, de um ponto de vista assumidamente deturpado pelo amor, que para o Pedro eu estou sempre mais certa que o resto do mundo (incluindo o sacana do Miguel). Mariquices...
Apesar do "mas", admito que quase amo o Miguel também.
Ou não.
Não, neste caso deixo isso do amor lá com eles e fico na bancada a assistir deliciada ao brilhozinho nos olhos do Pedro no regresso dos almoços em Sintra. Não vou precisar de perguntar se foi, ou se vai. Vou saber, porque "o Miguel...." vai muitas coisas nesses dias.
Miguel, empresto-te o Pedro um bocadinho, mas não te atrevas a dar-lhe cabo da fisga, senão vou a Sintra e acabo contigo à paulada.

1 comentário:

José Alexandre Ramos disse...

É absolutamente extraordinário como escreves estas coisas. Tenho gostado muito destas tuas crónicas. Muito mesmo.