Chegou o verão ao meu Terraço.
Ou melhor,
Voltou o verão, e com ele voltou o meu Terraço.
Passam-se meses que não nos vemos, senão por alguma espreitadela encolhida por trás das cortinas, ou uma ou outra visita mensal, para apanhar as folhas que insistem em fazer ninho no ralo.
Nada mais.
O Terraço fica o inverno inteiro entregue ao cinzento da intempérie, e à árdua tarefa de se certificar que a chuva se encarrega da sede das buganvílias.
Ainda assim, apesar do abandono voluntário, quando voltam o calor e as noites macias, lá está ele com a sua fidelidade canina, à minha espera.
Com o verão voltam também os pretextos a justificar a entrega:
Um galho seco a reclamar poda, sistematicamente adiada durante seis meses, mas que se torna urgente em Julho,
Um vestido molhado no cabide, que no inverno seca na perfeição cá dentro, mas que no verão exige pingar lá fora,
O ninho do ralo desfeito diariamente...
E a brisa quente, a empurrar a flor rosa da buganvília, por entre os cortinados: Vens?
Falam as buganvílias?
Na dúvida respondo. Vou. Claro que vou.
Passo o dia nisto, dentro e fora, a desenhar pretextos de visita, quando na realidade chega, ou deveria chegar, o desejo.
Felizmente, o cair da noite acalma esta inquieta dança diurna, e aí sim, basta-me o desejo. Aí sim, vou para ficar. Acendo a luz devagar, para não despertar nenhum vizinho invejoso, certifico-me de que há quietude no meio da escuridão,
e num suspiro fundo a espantar os males, encho o corpo de verão.
Ouve-se o mar na minha telefonia barata, se lhe encostarmos bem o ouvido, como se fosse um búzio.
Um dia vou ouvir o mar, sem búzio, nem telefonia. Porque no final, ouve-se sempre.
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