terça-feira, 30 de agosto de 2011

Do lameiro com amor

Talvez seja porque já não chove tanto como antigamente.
Ou talvez seja só porque já não é antigamente.
Antigamente inundavam-se os campos de cultivo com a água que escorria contínua e abundante das levadas. Os campos alagados explodiam em minúsculas margaridas de agradecimento na Primavera, e as pedras toscas que desenhavam os canais de rega forravam-se de musgo escorregadio para que a água escorresse sem dificuldade. Não se podia caminhar nos lameiros sem galochas, nem nas pedras dos canais sem cair. Estava tudo pensado ao pormenor para que a água seguisse o seu caminho livremente.
A mim parece-me que continua a chover tanto como antigamente, mas os prados devem estar doentes, só pode. Porque raio haveriam de estar a soro se assim não fosse? Quilómetros sem fim de mangueiras furadas, pretas e gordas, invadiram os campos. Amassam o pasto que não quer ser amassado, e penduram-se deselegantemente ao pescoço das amendoeiras, que só não as deixam cair por não saberem baixar os braços.
A água em tempos generosa, pinga agora em esforço apenas onde faz falta.
Não fazem falta as margaridas?
Não fazem falta as vacas barrosãs com meias de lama até ao joelho?
(Eu avisei. Não se pode caminhar nos lameiros sem galochas)
Não faz falta o musgo verde para o presépio?
E o presépio meu Deus? Que será agora do presépio?
Quero lá saber. O que eu queria mesmo era falar de amor, mas saiu-me isto das mangueiras...
Parece que no Natal há amor.
Por agora serve.

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