sábado, 27 de abril de 2013

Esplanada

Ao Nuno e ao gin

Um pombo arrulhava uma fêmea a escapar
a fêmea dançava com o pombo a arrulhar
parecia fugir
mas aquilo era dançar
e o pombo inchado seguia a cantar

É garganta, coitado, disse o doutor
não senhor
repare bem no estupor
está bom de se ver
que aquilo é só amor

A senhora mandou pôr um bife a grelhar
o empregado perguntou como o ia desejar
bem passado, com certeza
respondeu a olhar
a dança do pombo
no chão a chamar
a fêmea que corria
sem sossegar
e o pombo a inchar, a inchar...

Enervada
a senhora mandou pôr os pombos a andar
o empregado perguntou se a estavam a incomodar
sim, com certeza
disse quase a soluçar
não tanto pelos pombos
pobres criaturas
o que a estava de facto a maçar
era aquela dança toda
inteira só de um par

Chegou um cavalheiro
e sentou-se a almoçar
estendeu-lhe um lenço branco
pra que se pudesse assoar

Arrulhada
a senhora conseguiu sossegar
não tanto pelos pombos
pobres criaturas
que seguiam a amar
naquele caso
para sempre o mesmo par

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