Querem conhecer São Tomé?
Metam-se a caminho. Agora.
Metam-se a caminho. Agora.
Preferem o Chiado?
Já deviam ter ido. No tempo dos pinheiros.
É o que penso, pelo menos agora. No final do texto já se vê.
Já deviam ter ido. No tempo dos pinheiros.
É o que penso, pelo menos agora. No final do texto já se vê.
Ando quase sempre trocada mas nestes casos nem por isso. Graças a Deus, cheguei sempre a tempo. Antes, como agora, mais que a tempo - ainda o final do texto não se aproxima e já as certezas me vacilam. Vocês não sei, mas vamos imaginar que não chegaram a tempo, para melhor servir o carácter dramático do texto:
- Vocês nunca foram a São Tomé e só visitaram o Chiado depois dos pinheiros da Praça Luís de Camões!
- Vocês nunca foram a São Tomé e só visitaram o Chiado depois dos pinheiros da Praça Luís de Camões!
Oiçam o que vos digo; vão agora, antes que se perca ou se renove. Não que o novo não seja bom, nada disso, mas nunca igual. Por agora São Tomé ainda uma ilha toda da cor de si própria. Tudo se faz e refaz ali mesmo. O que lá há, é o que se usa, e por isso não foge à cor do que ali sempre existiu. É bonito de ver, acreditem. Já sobram poucos lugares assim. A raridade é valiosa, mas neste caso é mais do que isso. A ilha usa e volta usar apenas o que produz. Uma canseira, primitiva talvez, mas uma canseira linda para a vista de nós, miseráveis, sem identidade própria. Ou com uma identidade global, sei lá... Todos uma mistura imunda daqui e dali, já ninguém sabe de onde. Ali não. Na ilha as cores são as da terra e pouco mais. Tão pouco que mal se nota. Um quase nada que até lhe dá graça. Talvez uns ténis coloridos que o primo emigrado enviou pelo correio, ou os restos de uma boneca da moda que os voluntários trouxeram de fora. De resto, só tipos a carregar carvão em lonas que um dia serão velas de barco ou toldos das bancas de peixe. E assim sucessivamente com o que lá há, até tudo se esbater numa coisa só, São Tomé. Coisa bonita essa, a da essência.
E os pinheiros do Chiado? perguntam vocês.
A Praça Luís de Camões tinha pinheiros. Tinha sim, juro. Muitos pinheiros, todos mansos.
A Praça Luís de Camões tinha pinheiros. Tinha sim, juro. Muitos pinheiros, todos mansos.
Eu gosto de árvores. Adoro, até. Mas confesso que me dava desgosto vê-las ali entaladas na calçada a cuspir gosma a primavera inteira
Não são os pinheiros, esses?
Mas e aquele chão sempre tão sujo?
Pastilhas elásticas?
Pastilhas elásticas?
Não, os pinheiros não sabem mascar. Inclino-me mais para o suor fétido dos miúdos de 16 anos embebidos em álcool. Fazia-me confusão o aperto dos pinheiros, mas tapavam aquilo um bocado, entendem? Pelo menos visto de cima. Quando se voa ou assim, dá jeito. O professor da faculdade sempre a dizer "Ana Sofia a vista de cima é tão importante como as outras" e eu "importam-se as gaivotas?"
Eu importo.
No outro dia voltei à ilha. Contei dois letreiros novos. Coloridos e luminosos. Os primeiros da ilha. De empresas de telecomunicações, acho, nem quis olhar bem. Não chorei porque já tenho idade para me apoquentar com o inevitável. Com o melhor, dirão os tipos de sacos de carvão às costas.
E estão cheios de razão.
Eu nem sequer vivo lá.
E estão cheios de razão.
Eu nem sequer vivo lá.
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