quinta-feira, 30 de maio de 2013

Ouvia... via...via...

Daquela janela nada se ouvia.
E se ela gritava, oh se gritava
o mais que podia.
Pouco ou nada podia, a desgraçada.
Naquele beco, nem o gato fugia.
Sereno
surdo talvez
remexia, remexia
o lixo que por ali havia.

Daquela janela também nada se via.
Nem o beco
nem o gato
nem o lixo.
Por isso pouco interessava
o que em quem remexia.
Naquele beco para ela pouco ou nada existia.

Porque gritava então?
Se o mais que podia não se ouvia
e o mais que ela via era o nada que a perseguia?

Gritava porque só isso podia.
Queria lá saber se o gato
que talvez até fosse um sapato
não imaginava o que por ali se sentia.

O eco, esse sim, existia.
Oh se existia
oh se gritava gato sapato
no beco de uma alma cega
e vazia.

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