quinta-feira, 31 de julho de 2014

Tempo de praia

Há muito que não tenho tempo a perder com essa história de ter frio na praia. 
E é pena, porque, tanto quanto me lembro, era bom. Bem bom, até.
A idade faz de nós especialistas à força. Deixamos de ter tempo para gostar da praia em geral e passamos a ter tempo apenas para gostar da praia de determinada maneira. Se vamos à praia e não encontramos as condições específicas que procuramos, nem paramos para pensar, seguimos caminho para a esplanada, ou para o campo, ou para o cinema. Seguimos caminho para onde aquelas exactas condições possam fazer um brilharete. 
Tenho saudades de gostar da praia e das coisas de qualquer maneira, 
de as desejar perfeitas
e de as receber como são.
Pelo meio,
breves momentos de frustração
um ralhete do pai
um pontapé à mana
a mão larga da mãe
e pumba! o rabo no chão
- Não te levantas enquanto não pedires desculpa à tua irmã.
Tenho saudades de ter tempo para esperar,
chorar 
digerir a irritação 
pedir desculpa à mana
vestir a camisola
e depois brincar.
Quando se tem tempo não importa se chove, se faz sol
se vem a caminho um furacão. 
Podemos só ficar
a olhar.
No entretanto, 
aproveita para me dares a mão.
  

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