O que eu gostava que as músicas falassem. Ou que pelo menos ouvissem. Ou que pelo menos esta, só esta, claro que só esta, me pudesse ouvir gritar-lhe,
- Casas comigo?
Ou nem perguntar, ordenar apenas
- Casa comigo.
Onde é que andaste este tempo todo? Procurei-te por todo o lado. O vestido já nem branco. As flores já nem vivas. Mortas. Um molho de flores apanhadas de propósito. Um altar improvisado; baixinho. E eu de pé, nas tábuas tortas, com um molho de flores apanhadas ao acaso, estragadas, se calhar já mortas, a escorrerem-me das mãos. E as mãos cerradas nas flores mortas. Porque mesmo mortas, são flores. Porque mesmo morta, sabia que havias de chegar. E para nós, flores mortas servem perfeitamente. Bem vistas as coisas nem precisamos de flores, nem de vestido, nem de altar. Agora que chegaste não precisamos de nada.
É impossível que não me ames de volta. Um amor assim não se faz sozinha. Não é possível que eu tenha feito isto sozinha.
- Caramba, queres ver que fiz isto sozinha?
- Foda-se, fiz isto sozinha.
Como é que se pode amar uma música? Já sei que não se pode. Já sei isso tudo. Mas pode, sim. Não sei como, mas pode. Eu amo. Eu amo porque vi o mundo cair à minha volta quando apareceste. Eu amo porque vi o mundo pequenino, três tábuas apenas, quando apareceste. E eu de pé naquele bocadinho de mundo tão grande quando te vi.
E que eu morra aqui se não foi amor o que ouvi.
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