terça-feira, 13 de maio de 2014

Da sede em geral, e do amor em particular

          Quando sei alguma coisa, sei exactamente o que quero.
          Se peço uma Água das Pedras e me oferecem Vidago, agradeço mas vou ao café do lado.
          O pior é a sede.
          As generalizações são traiçoeiras. Não tanto no caso da água que é, incolor, inodora, insípida, ou seja, suficientemente in para ser inócua, mas em casos um pouco mais fora de moda, tomar a partícula pelo todo, pode ter consequências trágicas.
          Mas mesmo no caso simples da água. quando me calha em sorte o saber, só me basto com o que quero. Nem mais nem menos. Parece-me justo aproveitar os momentos de lucidez para fazer a coisa certa.
          O pior é a sede.
          A sede estraga tudo, quando aperta, não é preciso ser-se estrangeiro para se ser capaz de qualquer coisa. O ideal é ir tomando água ao longo do dia, para evitar que o diabo se nos instale no corpo e desate a fazer asneira da grossa por aí.
          Para enorme desgosto do meu pai, que me preferia mais sóbria,
          tenho bebido Vidago vezes demais!
          Antes água que vinho, é certo.  Ainda assim lamento, não saber cuidar sempre (ou pelo menos quase sempre) da partícula como ela merece. Eu (e vocês também, não pensem...) mereço exactamente aquilo que tenho; no meu caso, ora um copinho de Pedras, ora uns garrafões de Vidago, no vosso, noutra proporção qualquer.
          Prometo melhorar, Pai. Sem chorar nem nada. Chorar só piora as coisas, desidrata. Vou só respirar, pai. Levantar a cabeça, respirar e andar. Quando me voltares a ver vou ser toda partículas reluzentes, vais ver. Qual todo qual quê! Ninguém vai poder ver o todo. O olhar vai-lhes ficar grudado em cada milímetro meu, todos no sítio certo, distintos, únicos, escolhidos por mim e não mais por esta sede louca que se torce cá dentro.

Sem comentários: