terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Amor gramatical

Não sei muito bem porquê, mas gosto sempre mais de usar os adjectivos depois dos substantivos.
Ou não.
Ou depende.
Depende, acho.
Sei que gosto da ideia de
uma coisa linda ser mais linda, que uma linda coisa.
(Está certa aquela vírgula ali, Pedro?)
Prefiro quando se referem a mim dizendo com uma ar ternurento
- Que coisa linda.
Desconfio porém, que não raras vezes o pensamento é mais
- Que linda coisa...
As coisas têm de facto uma relação conflituosa com os adjectivos. Se calhar amam-se e depois dá nisto.
Todas as coisas preferem ser "coisas grandes", a "grandes coisas". Uma "grande coisa...", especialmente se proferida com ar de desdém e reticências (é possível proferir reticências?), é na realidade uma coisa pequena.
Há dias em que a versatilidade me cansa.
Tempos houve em que me aborreceram os Legos. Ficava sempre um bocadinho ansiosa, quando me davam uma caixa de Lego com meia dúzia de peças que devidamente conjugadas, podiam construir trinta e nove carros diferentes. Que desgaste meu Deus!
Para o bem do descanso de muitos (acreditando que há por aí mais gente cansada da versatilidade das coisas) sugeria que os adjectivos beijassem de uma vez por todas as coisas na boca, e que em regime de excepção, não deixassem as coisas passar à frente nas portas.
Assim, teríamos sempre coisas lindas e coisas grandes.
É possível que se verifiquem momentos de amuo por parte das coisas, de cada vez que os adjectivos pouco cavalheiros lhes passarem à frente. Não desanimem meus senhores, não deverá ser nada que mais um beijo doce não resolva.

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