segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O rato e (ou) o elefante

I wish i could wish a mouse, so that i could stop wishing the f**** elephant.
(Em inglês para dar mais credibilidade ao assunto)

Foi mais ou menos isto que cresci a ouvir o meu pai dizer: se queres um rato, deseja um elefante.
Não era bem assim que o dizia, até porque o meu pai não é lá muito bom com animais e muito menos com inglês, mas na essência acho que a ideia está lá: deseja o imposssível para teres o máximo possível.
Impossível e possível juntos na mesma frase devia ter sido desde logo motivo de suspeição, mas foi o pai que disse, e assim sendo...

Gosto muito da teoria e até acho que faz algum sentido, mas como todas as teorias, é relativamente fácil de questionar, basta que tenhamos demasiado tempo livre.
Eu não tenho, mas a minha cabeça insiste em tirar folga mesmo quando eu tenho de trabalhar. E a minha cabeça de folga é um perigo. Em vez de se concentrar no que deve - bebidas com ou sem gelo, vinhos tintos ou brancos, do Douro ou do Alentejo... - gosta de me desafiar com assuntos menores: ratos e elefantes.

E não me venham cá dizer que um elefante é demasiado grande para ser um assunto menor. Experimentem  preparar um bloody mary no espaço minúsculo de uma galley de avião, enquanto se perdem com pormenores de tamanhos, para verem o sarilho que arranjam.

- 150 ml de sumo de tomate
- uma pitada de sal
- 6 gotas de molho inglês
- uma pitada de pimenta preta moída
- 4 gotas de sumo de limão
e, claro,
- 1 dose de gin.

Não é gin, é vodka!
(Eu avisei...)

Se calhar da próxima vez que alguém me pedir uma bebida complicada, vou responder-lhe com a teoria do meu pai,
- Ora aqui está o seu sumo de laranja.- E viro as costas de imediato. Não fico ali em pé à espera que me façam perguntas. Toda a gente teve um pai, não hei-de ser eu a única a saber destas coisas.

Ainda bem que sonhaste alto, rapaz, porque se tivesses desejado um sumo de laranja, tinha-te calhado um copo de água, SEM GELO. Por isso delicia-te com o sumo, que eu já te dou um cartãozinho do meu pai. Assim ajustas contas directamente com ele.

Pois é pai, esta cena do sonho e da realidade seria toda muito engraçada e útil se pudessemos sonhar em inconsciência. Eu explico, que não gosto de coisas confusas:
Se o tipo do 2A pudesse ter desejado um bloody Mary sem se dar conta de que o desejava, estaria agora felicíssimo da vida com o Compal de laranja que lhe apresentei. Não é o caso. Sonhar sem se saber que se sonha é coisa impossível, a menos que se esteja a dormir. E como todos sabemos, sonhar a dormir é apenas uma pequena fatia do sonho em geral. Por isso, se eu desejo um elefante, passo a saber que o posso ter, porque já o tive em sonho. Como queres que me contente com um hamster ranhoso?

Pois é paizinho, esqueceste-te de explicar como se faz isto da resistência à frustração, ou da resignação ao possível, ou da compreensão do que se pode ou não ter. Esqueceste-te e agora sou eu que vou ter de explicar ao tipo engravatado do 2A porque é que faz todo o sentido servir-lhe um Compal de laranja quando ele pediu especificamente um bloody mary.

Sinceramente a minha vontade é dizer-lhe,
- You bloody ignorant! Talk to may dad cause i really dont know what else to say.

Paizinho, o hamster não é assim tão ranhoso, até é querido e tudo mais, mas eu queria mesmo era o elefante. Achas que ainda vou a tempo?

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