quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Rui de papel

"E se eu gostasse muito de morrer" não me larga o corpo.
Adoro títulos.
Leio muito menos do que devia. Ou melhor, leio muito menos do que queria. 
(Devia agora! Queria agora! Leio o que quero, que é o que devo. Seja como for, a verdade é que leio pouco) 
Muito do pouco que leio, são títulos. O que quer dizer que à minha maneira, leio os livros.
Como preguiçosa encartada que sou, encontrei uma forma de ler que não me dá cabo da vista.
(Ao fim de tantos anos, continua a surpreender-me a mestria com que invento desculpas credíveis para a minha inércia)
Se um livro é feito a dois, sinto que cumpro pelo menos parte da minha parte, quando um título me anda a contar histórias durante dias.
"E se eu gostasse muito de morrer"
Não é o título premiado, bem sei, mas é o que se agarrou a mim. Que fazer? Agora é deixá-lo fazer o seu trabalho.
Evito entrevistas com o autor, artigos sobre o prémio, críticas, elogios, interrompo vídeos a meio porque não quero saber mais. Não quero estragar o trabalho ao título. Não quero nada que se assemelhe com a realidade. Tenho a minha história e serve-me por agora. Um dia vou lê-lo, este e o premiado também. Por agora prefiro demorar-me a olhar a foto. Imagino o homem para lá do papel e dou comigo a pensar,
e se ele gostasse muito de morrer?
Era uma merda Rui de papel. Quanto ao outro não sei, ao de papel dir-lhe-ia, com a voz tremida e os olhos bem abertos a segurar as lágrimas,
- Pode morrer depois?
- Depois de?
- Sei lá. Depois.
E se isto não chegasse para lhe chantagear a vontade, virava tudo ao contrário e perguntava-lhe,
- E se gostássemos todos muito de morrer?
Entendes agora?

Sem comentários: