Só depois da poeira
assentar novamente nas coisas se pode compreender que o único problema sem
solução chega sempre tarde demais, pelo menos para o próprio. E quanto à morte,
não há muito a fazer; quando chegar não teremos tempo sequer
de lhe acenar com a mão. Para além do fim material - chamemos-lhe assim - , nenhum
dos outros é permanente. Porque se todos durassem para sempre não existiria a
palavra recomeçar. E recomeçar não é mais do que começar depois de um fim. E
começar depois de um fim significa que alguma coisa aconteceu para que pudesse
acabar. E se alguma coisa aconteceu, não há como virar a cara para o lado e
simplesmente começar. Podemos virar a cara para o lado, sim, mas o que se segue
é um recomeço - um começo do fim, mas para a frente e não a andar para trás.
Gostamos de dizer que vamos recomeçar do zero, mas não se pode recomeçar do zero. O zero ficou para trás e não há como lá voltar. Podemos até pegar numa lasca de tijolo e escrever um zero gigante onde quisermos - aviso desde já que esta forma arcaica de giz só escreve bem no alcatrão -, podemos até olhar para o lado a tentar obrigar o corpo a dar meia volta e seguir a ordem da cabeça de volta ao zero. Mas o corpo é que manda, esteja lá a cabeça virada para onde estiver. Por isso, o melhor que temos a fazer com o pedaço de tijolo é desenhar um jogo da macaca e saltar ao pé coxinho para nos distrairmos no entretanto.
Gostamos de dizer que vamos recomeçar do zero, mas não se pode recomeçar do zero. O zero ficou para trás e não há como lá voltar. Podemos até pegar numa lasca de tijolo e escrever um zero gigante onde quisermos - aviso desde já que esta forma arcaica de giz só escreve bem no alcatrão -, podemos até olhar para o lado a tentar obrigar o corpo a dar meia volta e seguir a ordem da cabeça de volta ao zero. Mas o corpo é que manda, esteja lá a cabeça virada para onde estiver. Por isso, o melhor que temos a fazer com o pedaço de tijolo é desenhar um jogo da macaca e saltar ao pé coxinho para nos distrairmos no entretanto.
Mas atenção que o entretanto é um momento
importante. Como o próprio nome indica é um momento entre muita coisa; antes
houve tanta coisa, mas depois também vai haver. O entretanto é o momento entre
tudo isso, logo é importante.
A cabeça nestas coisas reais não manda nada, o corpo segue em frente e a cabeça não tem outro remédio que não seja segui-lo. Podemos ficar o resto da vida a olhar para trás, mas se assim fizermos, o mais provável é esbarrarmos num poste de electricidade que nos relembra que é sempre melhor olharmos para o sítio onde vamos, e que se aproxima, em vez de ficar a olhar para o sítio de onde viemos, e que se afasta cada vez mais.
A cabeça nestas coisas reais não manda nada, o corpo segue em frente e a cabeça não tem outro remédio que não seja segui-lo. Podemos ficar o resto da vida a olhar para trás, mas se assim fizermos, o mais provável é esbarrarmos num poste de electricidade que nos relembra que é sempre melhor olharmos para o sítio onde vamos, e que se aproxima, em vez de ficar a olhar para o sítio de onde viemos, e que se afasta cada vez mais.
As
pessoas com sorte esbarram com o poste suficientemente cedo, as outras vivem em
cidades sem luz.
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