segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vá-se lá saber porquê

Vá-se lá saber porquê, aos domingos fico pregada ao sofá, vidrada no concurso "Achas que sabes dançar". Sempre que começo uma frase por "vá-se lá saber porquê", faço um esforço por parar para pensar. Gosto de entender a razão das coisas boas me acontecem, quanto mais não seja para as poder repetir, e assim, quem sabe, ser feliz mais vezes.
A verdade é pequena, mas é esta: tenho sido feliz aos domingos, em casa, afundada num sofá que já teve melhores molas, e em frente a uma televisão que nem sequer é um plasma.
Será isto possível?
É.
E isso é bom. Afinal é preciso pouco. E esse pouco, eu tenho.
Comove-me uma paixão das grandes, mesmo quando essa paixão não é minha. Chego até a sentir uma pontinha de inveja branca, idêntica à que me acontece quando no carro, se me molham os olhos de emoção, ao sabor de uma música que decido arruinar, bem nas barbas do artista impotente e enjaulado no meu Blaupunkt. Se pudesse, arrancava a Céu pelos cabelos e afogava-a num abraço de agradecimento.
- Caramba, afinal estou viva. Que bom é lembrares-me disso.
Ou se calhar não dizia nada. É isso... não dizia nada. O silêncio é a melhor companhia de um abraço.
Comecei a dançar (eu?), e já vou a cantar (eu?), sem saber fazer nem uma coisa, nem outra. E é exactamente isso que me fascina em programas de televisão como este. Naquelas duas horas, podemos fazer tudo, sem fazer puto ideia como se faz.
Não me lixem! Há ou não há grandeza nisto?
Enquanto eu continuar a conseguir dançar numa pele que não é minha, e a cantar com uma voz que não tenho, não há nada que me meta medo.
E se por acaso um dia, também o corpo e a voz me falharem, invento uma viagem de carro que não tenho de fazer, ligo o rádio aos gritos, e dou um abraço mudo à Céu.

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