sexta-feira, 2 de julho de 2010

Uma questão de lápis












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É mais ou menos isto que tenho para dizer.
Muita coisa.
Pouca legível.
Pouca que se possa entender.
Pouca que eu saiba como dizer.
Cruzo e descruzo as pernas, inquieta e repetidamente. Ajeito-me na cadeira pela centésima vez desde que aqui me sentei. Abro o meu caderno de notas. Viro as páginas desordenadamente, à procura de alguma coisa que não estou certa de ter escrito, o que quer dizer que provavelmente não escrevi.
O que era mesmo que eu queria dizer?
Como se o que tenho para dizer pudesse ser escrito.
Desfolho uma vez mais o bloco de notas, ao estilo de quem abre o frigorífico à espera de um milagre em que não acredita, mas que insiste em esperar.
Como se o que tenho para dizer pudesse ser escrito.
Pego num lápis HB, que me custou uma fortuna no Corte Inglés. Um lápis HB, que escreve grosso e negro como um lápis 2B, e que é áspero como aqueles que não custam uma fortuna no Corte Inglés. Um lápis HB caríssimo, a fingir que é um 2B barato. Um lápis HB que traz uma borracha ridícula na ponta, como que a dizer: com este lápis podem-se escrever disparates, porque logo de seguida se podem apagar, como se nunca tivessem sido escritos. Mas foram.
Arranho umas barbaridades no papel. Umas escritas, outras desenhadas. Todas demasiado negras e grossas. Não apago.
O que era mesmo que eu queria dizer?
Como se o que tenho para dizer pudesse ser escrito.
Troco de lápis. Passo para um 2H, e espero que escreva como um HB. Seguramente para me chatear, este mantêm-se fiel à sua identidade e insiste em escrever como um 2H. Não tem borracha na ponta. Compreende-se. De que serve uma borracha a um lápis, que para além de escrever a negro, marca irreversivelmente a sua dureza no papel? Não há borracha capaz de apagar o que ficou escrito sem carvão.
Continuo a rabiscar "nadas" à espera que me aconteçam "tudos".
Até agora nada.
Num impulso que não quis controlar, apaguei tudo com a pequena borracha do lápis fraudulento do Corte Inglés. Sobraram-me os escritos a nada, cravados na folha pelo lápis 2H, que nem a borracha caríssima soube como apagar.
Rasgo a folha, amachuco bem, e deito fora.
Não quero nada escrito hoje.
Nem a carvão nem a nada.
Resumindo, tenho vários lápis para escrever e na realidade nada para dizer.

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